terça-feira, 22 de julho de 2008

O mel e o fel

(Relembro aqui um capitulo da minha vida. Uma história de um passado recente, que mereceu neste espaço muitos desabafos. Hoje não é mais do que uma lembrança, mas os momentos do passado também merecem uma palavra. Quanto mais não seja, para que não deixem dúvidas.)
....
Foi quase há dois anos que nos conhecemos. Percebi que eras reservado, metido contigo só, aconchegado no teu mundo.
Com o tempo foste desabrochando, recebendo a minha confiança, oferecendo-me a tua. Depois, vieste de mansinho. Aproximámo-nos.
Eras meigo, atencioso, cavalheiro.
Apesar de te achar também um bocadinho louco, apreciava o teu particular sentido de humor.
Admito, mexeste comigo.
Lembro bem aquela noite de Dezembro. Despedimo-nos depois da habitual saída para café, mas haverias de querer tu, que a noite não terminasse por ali. Inesperadamente percebi que o teu carro seguia o meu. Julgava que a tua loucura se resumia às palavras...às ideias...nunca aos actos.
Enganei-me.
Há muitos dias que me vinhas pedindo um beijo.
Pedias-me IN-SIS-TEN-TE-MENTE um beijo.
Querias resgatá-lo.
Apanhaste-me.
Eu deixei.
De novo se fez um silêncio atrapalhado entre nós. Aquele toque entre os dois, actuou como um feitiço inesperado, ateou alguma coisa...ou talvez não tenha ateado, talvez tenha apenas tornado visível o que já existia dentro de mim, aquela espécie de incêndio lento que ardia cá dentro em lume brando. Todavia, era a consciência desse incessante fogo que mais me atrapalhava. Sabia que o caminho por ali não tinha saída...não fazia sentido...não daria em nada...não tinhamos futuro. Este era aquele tipo de amor, para o qual não me sentia definitivamente talhada.
Mas desafiei as minhas convicções, fechei os olhos, tapei os ouvidos, deixei tão somente que o coração falasse. Deixei-me ir.
Um erro, que me haveria de sair caro.
Não te culpo, afinal eras um homem vulgar, eu é que acreditei seres diferente. Acreditei seres a pessoa com quem seria capaz de falar até perder a noção do tempo, até os minutos se fazerem horas, até as palavras se tornarem beijos.
Engano meu.
Vivia esta “relação” dia-a-dia. Fazias sentir-me bem, sentia-me acarinhada…uma Deusa até, de tão mimada que era.
Os passeios foram-se sucedendo, Torres, Lisboa, Peniche, Óbidos, Sintra, Porto, Braga...e eu sei lá mais onde.
Surpreendias-me. Presenteavas-me.
Tinhas um jeito de me tratar que eu amava.
Eu amei-te.
Mas tu não andavas bem. Um comportamento instável e incompreensível, que começou a destabilizar-me.
Quiseste terminar o que lutaste para começar.
Tudo bem.
Doeu, mas hoje acredito que foi o melhor que já por mim fizeste.
Nos primeiros tempos, senti-me vazia, não por perder um amor que julgava verdadeiro, mas por percebê-lo verdadeiramente falso.
Vivi dias de uma escuridão tão profunda, que se confundia com um abismo. Foram noites e noites de saudades sepultadas na cumplicidade de um travesseiro.
Mas ainda estava longe de imaginar o que haveria de vir a seguir. Para isto, eu não me tinha preparado.
Tantas vezes te ouvi dizer “…eu, quando quero magoar alguém, sei bem como fazê-lo”.
Nunca quis acreditar. Um comportamento malicioso, não encaixava no homem doce que eu conhecia.
Novo erro.
Nisto tu foste verdadeiro.
Hoje afirmo e confirmo, que uma coisa é imaginar em abstracto uma situação destas, outra, bem mais brutal, é tê-la diante de mim, vê-la perante os meus olhos, senti-la palpável, constatá-la real, sabê-la tão cruamente verdadeira.
Ainda assim, não te condeno. No fundo, és sempre tu que ficas a perder...pena só tu não o perceberes.
Mudaste.
Percebes agora o silêncio?
E sabes porque é que durante muito tempo eu ainda continuei presente?
Porque acredito que tu sejas uma vítima.
Alguma coisa, nalgum momento, na tua vida, falhou.
Tu precisas de ajuda.
Um dia perguntaste-me: “Mas porque continuas a sair comigo... o que é que tu ainda sentes por mim?”
Não consegui responder-te de uma forma sincera - desculpa. Eu continuava a amar sim, a sonhar com a presença de alguém do meu lado, a querer partilhar-me, mas nada disto te contei, nada disto tu viste, nada era teu. Já nada disto, juro, era teu. A determinada altura percebi que a paixão pelo homem que tu um dia foste para mim, se tinha transformado em compaixão pelo homem frágil, fraco, insensível e inconsequente que acabaste por te revelar. Receei dizê-lo.
Ao contrário do que possa parecer, não passei de amor de perdição a ódio visceral. Não.
Continuo a gostar de ti... só que agora, "de uma forma diferente" (como tantas vezes a mim me disseste).
Nunca te neguei ajuda.
Nunca te negarei ajuda.
Mas deixo-te o conselho: tenta não magoar mais ninguém, para que não tenhas de ser TU a sofrer no fim, porque também sei que nada disto te faz feliz.
Abraço-te.

Nota: Qualquer semelhança desta história com a realidade, não é pura coincidência.


(Encerrei a história...esqueçi o capitulo...segui a minha vida!)

...
Comigo caminham todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada.
......