(Relembro aqui um capitulo da minha vida. Uma história de um passado recente, que mereceu neste espaço muitos desabafos. Hoje não é mais do que uma lembrança, mas os momentos do passado também merecem uma palavra. Quanto mais não seja, para que não deixem dúvidas.)
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Foi quase há dois anos que nos conhecemos. Percebi que eras reservado, metido contigo só, aconchegado no teu mundo.
Com o tempo foste desabrochando, recebendo a minha confiança, oferecendo-me a tua. Depois, vieste de mansinho. Aproximámo-nos.
Eras meigo, atencioso, cavalheiro.
Apesar de te achar também um bocadinho louco, apreciava o teu particular sentido de humor.
Admito, mexeste comigo.
Lembro bem aquela noite de Dezembro. Despedimo-nos depois da habitual saída para café, mas haverias de querer tu, que a noite não terminasse por ali. Inesperadamente percebi que o teu carro seguia o meu. Julgava que a tua loucura se resumia às palavras...às ideias...nunca aos actos.
Enganei-me.
Há muitos dias que me vinhas pedindo um beijo.
Pedias-me IN-SIS-TEN-TE-MENTE um beijo.
Querias resgatá-lo.
Apanhaste-me.
Eu deixei.
De novo se fez um silêncio atrapalhado entre nós. Aquele toque entre os dois, actuou como um feitiço inesperado, ateou alguma coisa...ou talvez não tenha ateado, talvez tenha apenas tornado visível o que já existia dentro de mim, aquela espécie de incêndio lento que ardia cá dentro em lume brando. Todavia, era a consciência desse incessante fogo que mais me atrapalhava. Sabia que o caminho por ali não tinha saída...não fazia sentido...não daria em nada...não tinhamos futuro. Este era aquele tipo de amor, para o qual não me sentia definitivamente talhada.
Mas desafiei as minhas convicções, fechei os olhos, tapei os ouvidos, deixei tão somente que o coração falasse. Deixei-me ir.
Um erro, que me haveria de sair caro.
Não te culpo, afinal eras um homem vulgar, eu é que acreditei seres diferente. Acreditei seres a pessoa com quem seria capaz de falar até perder a noção do tempo, até os minutos se fazerem horas, até as palavras se tornarem beijos.
Engano meu.
Vivia esta “relação” dia-a-dia. Fazias sentir-me bem, sentia-me acarinhada…uma Deusa até, de tão mimada que era.
Os passeios foram-se sucedendo, Torres, Lisboa, Peniche, Óbidos, Sintra, Porto, Braga...e eu sei lá mais onde.
Surpreendias-me. Presenteavas-me.
Tinhas um jeito de me tratar que eu amava.
Eu amei-te.
Mas tu não andavas bem. Um comportamento instável e incompreensível, que começou a destabilizar-me.
Quiseste terminar o que lutaste para começar.
Tudo bem.
Doeu, mas hoje acredito que foi o melhor que já por mim fizeste.
Nos primeiros tempos, senti-me vazia, não por perder um amor que julgava verdadeiro, mas por percebê-lo verdadeiramente falso.
Vivi dias de uma escuridão tão profunda, que se confundia com um abismo. Foram noites e noites de saudades sepultadas na cumplicidade de um travesseiro.
Mas ainda estava longe de imaginar o que haveria de vir a seguir. Para isto, eu não me tinha preparado.
Tantas vezes te ouvi dizer “…eu, quando quero magoar alguém, sei bem como fazê-lo”.
Nunca quis acreditar. Um comportamento malicioso, não encaixava no homem doce que eu conhecia.
Novo erro.
Nisto tu foste verdadeiro.
Hoje afirmo e confirmo, que uma coisa é imaginar em abstracto uma situação destas, outra, bem mais brutal, é tê-la diante de mim, vê-la perante os meus olhos, senti-la palpável, constatá-la real, sabê-la tão cruamente verdadeira.
Ainda assim, não te condeno. No fundo, és sempre tu que ficas a perder...pena só tu não o perceberes.
Mudaste.
Percebes agora o silêncio?
E sabes porque é que durante muito tempo eu ainda continuei presente?
Porque acredito que tu sejas uma vítima.
Alguma coisa, nalgum momento, na tua vida, falhou.
Tu precisas de ajuda.
Um dia perguntaste-me: “Mas porque continuas a sair comigo... o que é que tu ainda sentes por mim?”
Não consegui responder-te de uma forma sincera - desculpa. Eu continuava a amar sim, a sonhar com a presença de alguém do meu lado, a querer partilhar-me, mas nada disto te contei, nada disto tu viste, nada era teu. Já nada disto, juro, era teu. A determinada altura percebi que a paixão pelo homem que tu um dia foste para mim, se tinha transformado em compaixão pelo homem frágil, fraco, insensível e inconsequente que acabaste por te revelar. Receei dizê-lo.
Ao contrário do que possa parecer, não passei de amor de perdição a ódio visceral. Não.
Continuo a gostar de ti... só que agora, "de uma forma diferente" (como tantas vezes a mim me disseste).
Nunca te neguei ajuda.
Nunca te negarei ajuda.
Mas deixo-te o conselho: tenta não magoar mais ninguém, para que não tenhas de ser TU a sofrer no fim, porque também sei que nada disto te faz feliz.
Abraço-te.
Nota: Qualquer semelhança desta história com a realidade, não é pura coincidência.
(Encerrei a história...esqueçi o capitulo...segui a minha vida!)
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Comigo caminham todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada.
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